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Relatos de Parto

Relato de Parto Patrícia e Alessandro = Arthur

Parto Domiciliar após parto normal hospitalar (11 abril 2014)

(esse relato de parto consta no livro Parto Ativo de Janet Balaskas)

No dia 11 de abril de 2014, tive o meu segundo filho, o Arthur, em um parto natural domiciliar. Poucos dias antes da Semana Santa, vivi a experiência mais sagrada de todas. O milagre da vida aconteceu dentro da minha casa. Foi um lindo trabalho de parto, relativamente curto: em torno de 5 horas de duração. Ao mesmo tempo, foi algo extremamente intenso e poderoso. No relato abaixo, tento cumprir da melhor forma a difícil missão de traduzir em palavras uma experiência que, de tão forte e tão única, é quase indescritível.
Eu estava com 38 semanas e 4 dias de gravidez. Acordei às 6:30 com cólicas leves. Tentei voltar a dormir, sem sucesso. Às 7:15 começaram as contrações. Sem ritmo, espaçadas, totalmente suportáveis. O Alessandro, meu marido, saiu para trabalhar, ficou de voltar mais tarde. 
Namaskar Yoga - Relato de Parto Patrícia e Allessandro = Arthur
Mandei mensagem para a minha mãe e para as integrantes da equipe do parto. Me recomendaram que eu fosse para o chuveiro, para ver se as contrações evoluiriam ou não. Fiz isso. Ao sair, fui me enxugar e percebi algo gelatinoso com frisos de sangue… Era o tampão mucoso.
Depois do banho, as contrações se intensificaram, e começaram a pegar ritmo. Avisei as pessoas da família e da equipe. Fui até o oratório, na sala, e fiz uma oração, pedindo proteção para mim e para o bebê, para dar tudo certo.
Minha mãe, que mora bem perto, foi a primeira a aparecer, umas 8:30. Trouxe café da manhã. O dia estava lindo, de sol. A claridade iluminava a sala de casa. Na seqüência, umas 9:30, a equipe chegou. Primeiro a Adriana Vieira, doula, depois a obstetriz, e a enfermeira obstetra, com todo o aparato de um parto domiciliar. Até então, estava tudo bem tranquilo. Contrações suportáveis, clima leve. Ficamos todas conversando, enquanto eu quicava na bola de pilates. O Bernardo, meu primeiro filho, de 2 anos, acordou e se uniu a nós, na sala.
Em um dado momento, pedi que a enfermeira avaliasse a minha dilatação. Ela fez o toque, e qual foi a nossa surpresa ao constatar que eu já tinha de 5 cm para 6 cm de dilatação! Fiquei radiante. Pensei: “Sim, é hoje que o Arthur vai nascer!” Avisei o meu marido e a Talitha, fotógrafa, para que também viessem para cá. 
Em torno de 11:00, a Talitha começou a fotografar e o meu marido passou a me massagear, se revezando com a doula. Fui mudando de posição, ouvindo as necessidades do meu corpo, seguindo os meus instintos. Agachei, fiquei de quatro, sentei no banquinho de cócoras. 
Aos poucos, o ambiente leve e descontraído foi se tornando mais sério e silencioso. Percebi uma movimentação da equipe, separando materiais e acessórios. As contrações foram se intensificando. Fui para o banheiro, para usar a água quente do chuveiro e da banheira, a fim de aliviar a dor na lombar. 
As coisas começaram a ficar menos nítidas. Além das massagens, lembro que a doula falava pra eu respirar, vocalizar, soltar o maxilar durante as contrações. Meu corpo parecia ter assumido vida própria. Eu mudava de posição no banheiro, sem pensar. Me agachava, me levantava, meus olhos se fechavam. Eu não pensava, somente sentia. Como em um transe...
Depois de um tempo, falei para a enfermeira que queria outro toque. Foi aí que descobrimos que a dilatação havia passado dos 9 cm! Hora de ir para a piscina. Era na água que eu havia imaginado tantas vezes o meu bebê nascendo. 
Entrei na piscina e as contrações continuaram. Então me falaram para tentar sentir a cabeça do bebê, colocando o dedo, para ver se ele já estava perto. Fiz isso e senti que ele estava a uns 2 cm da saída, ainda dentro da bolsa, que permanecia intacta. "Falta pouco!", pensei. 
Até que comecei a sentir uma enorme vontade de fazer força. “É agora!” 
Na primeira força, a bolsa se rompeu. Percebi o líquido amniótico saindo. Na segunda força, senti o bebê vindo. A cabeça parou na saída, eu continuei inspirando, expirando e vocalizando, e levei minhas mãos até lá embaixo.
Com as duas mãos, senti o Arthur coroando. Fiquei tão empolgada que não conseguia parar… Doía, ardia, mas continuei. Inspirei fundo e, na expiração, tentava ajudar a cabeça do bebê a sair. 
Ninguém me incomodou ou me disse como agir. Éramos só eu, o meu corpo, os meus instintos e o bebê. Até que saiu a cabeça, e o corpinho veio deslizando na seqüência, como um peixinho. Senti cada centímetro dele saindo de dentro de mim. Sensação incrível.
Tirei o meu filho de dentro da água, com as minhas mãos. Ele tinha, realmente, uma circular de cordão no pescoço. Pincei o cordão do seu pescoço e coloquei o meu bebê em cima de mim. Pronto. Foi o momento mais precioso do parto, que só durou uns poucos segundos, mas que vai ficar impresso em minha mente para sempre. Sentimentos como alívio, alegria, realização, plenitude, amor – todos juntos e misturados – me inundaram. Ouvi alguém anunciar o horário do nascimento: 13:44.
Eu não conseguia parar de olhar para o meu bebê: esbranquiçado, molhado, quente, perfeito. E tranquilo, tão tranquilo… Tentei amamentar o Arthur, mas ele só me cheirou e me deu umas lambidinhas, com a sua linguinha minúscula. Eu o cobri com uns paninhos. Só tirei os meus olhos dele quando ouvi meu marido chorando ao lado. 
O Alessandro apertou minha mão esquerda, enquanto com a direita eu segurava nosso filho caçula. “Nós conseguimos, nós conseguimos! Amo vocês, meus meninos!”
Ninguém nos interrompeu. A equipe apenas observou aquele momento sagrado, como deve ser. Aliás, sei que estavam todas ali, mas ao mesmo tempo me eram invisíveis. O momento era só nosso: pai, mãe e filho. Foi tudo como eu havia desejado e visualizado em minha cabeça, infinitas vezes. Não, mentira. Foi muito melhor.
Obs.: Arthur nasceu com 2,950 kg, 50 cm de comprimento, 34 cm de perímetro cefálico. Forte e saudável, apgar 10/10.
Namaskar Yoga - Relato de Parto Patrícia e Allessandro = Arthur